CRONOLOGIA
12 de Março de 1972 -
Foram presentes no BII17, Batalhão Independente de Infantaria nº 17
– Angra do Heroísmo, os primeiros elementos que viriam a integrarem
esta Companhia.
11 de Maio de
1972 - Após desfile desde a parada do BII17 até à Praça do
Município, onde se realizou em frente à Câmara Municipal, a
cerimónia de despedida e bênção do Estandarte, as
forças em parada desfilaram em continência diante da tribuna de
honra, presidida pelo Exmo. Comandante interino do BII17, Rev. mo
Prelado Diocesano e a Presidência do Município.
25 de Maio de 1972 - Ficou
pronta para partir dos Açores para Lisboa.
7 de Junho de 1972 -
Embarcaram por via aérea com destino a Lisboa o Comandante da
Companhia, levando sob o seu comando 19 militares.
8 de Junho de 1972
- Sob o
comando do Sr. Aspirante a Oficial Miliciano José A. Ribeiro,
deslocaram-se para Lisboa os restantes militares da companhia. Neste
transporte foi utilizado em regime de fretamento, um Boeing 727 da
TAP.
21 de Junho de 1972 - Com
a CCAÇ4740 a bordo, descolou em Lisboa, cerca das 14:00 horas,
com destino ao aeroporto de Bissalanca na Guiné, o Boeing 707 dos
TAM.
21 de Junho de 1972 -
pelas 16:00 horas locais, aterrou no aeroporto de Bissalanca na
Guiné o avião com a CCAÇ 4740 a bordo. Após o desembarque a
companhia fez formatura na placa do aeroporto onde recebeu os
cumprimentos de boas vindas apresentados por um oficial
representante do comandante Militar, e troca de envelopes contendo
as instruções imediatas.
A CCAÇ
4740 seguiu com destino ao CMI na zona de Cumeré-Nhacra onde
realizou o IAO, Instrução de Aperfeiçoamento Operacional e foi
integrada no Batalhão de Caçadores 4510.
Início da página
21 de Junho de 1972
- pelas 16:00 horas locais, aterrou no aeroporto de Bissalanca na
Guiné o avião com a CCAÇ 4740 a bordo. Após o desembarque a
companhia fez formatura na placa do aeroporto onde recebeu os
cumprimentos de boas vindas apresentados por um oficial
representante do comandante Militar, e troca de envelopes contendo
as instruções imediatas.
A CCAÇ 4740 seguiu com
destino ao CMI na zona de Cumeré-Nhacra onde realizou o IAO,
Instrução de Aperfeiçoamento Operacional e foi integrada no Batalhão
de Caçadores 4510.
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22 de Julho de 1972 -
Seguiu para Cufar a bordo de uma LDG onde, com sobreposição,
realizou a rendição da CCAÇ
2797.
21 de Agosto de 1972
- A CCAÇ 4740 assumiu a responsabilidade do subsector.
A partir
deste dia, sucederam-se cerca de 690 dias, destes a história está
por contar, que sabe um dia isso acontaça, mas já vai sendo difícil,
a memória já falha pelo menos nos pormenores.
Podemos agora dizer que destes dias,
alguns foram os
tradicionais dias festa de cariz relegioso ou não.
Passaram também, outros dias de cariz
bélico, uns muito intensos outros nem por isso. Quem não presenciou,
tem dificuldade, não consegue mesmo, fazer ideia do que vai num corpo, em situação de guerra ou guerrilha, é
como quiserem, vai dar ao mesmo, são quantidades enormes de adrenalina.
AGOSTO 1972 -
Alferes Mil. 10040268 -António Adolfo Moreira da Silva Zêzere
substitui o Alferes Mil. 08135871 - João Lourenço Salvado de Almeida
evacuado por ferimentos em combate, para o HMP.
Alferes Mil. 18029168 - Mário José Correia Salsinha substitui o
Alferes Mil. 06169168 - José Albino da Silva Ribeiro evacuado por
ferimentos em combate, para o HMP.
NOVEMBRO 1972 -
Soldado Mec. Auto
18882169 - Norberto Rodrigues Pinto Varandas substitui o soldado
Mec. Auto
07058571 - Salvador Barreiros da Silva evacuado por motivos de
doença, para o HMP.
OUTUBRO 72
- Soldado 12574871 - Germano Soares Medeiros foi evacuado por motivo
de doença, para o HMP em Outubro de 1972, onde veio a falecer.
Início da
página
3
de Novenbro de 1972
- TRIBUTOS A UM HOMEM DE CORAGEM, narrativa de
António Zêzere em
3.11.2013
No dia 3 de
Novembro de 1972, há quarenta e um anos (uma vida, Senhor!),
dirigia-se para frente de trabalhos da estrada Cufar-Catió o 2º
Grupo de Combate e o Pelotão de Caçadores Nativos 51.
A cerca de quinhentos metros da mata de Camaíupa, em zona já
desmatada mas ainda não limpa, percorrendo com todo cuidado o
velho trilho designadamente “picando” todos os pedacinhos
possíveis de chão, alguém da frente da minha secção, a primeira,
grita: MINA!
O grito terá feito cerca de cinquenta estátuas, tantos seriam os
homens da coluna. Ninguém se mexeu. Nem um passo em frente. Nem
um passo ao lado. Todos imóveis. As recomendações constantes
tinham tido efeito. Verdade, também, que não aconteceu qualquer
explosão a potenciar o susto.
Ninguém tirou os pés do chão e apenas as “picas” continuaram o
seu trabalho até onde os braços alcançavam. Não demorou muito
tempo e fazem-se ouvir outros gritos de “MINA” ao longo de toda
a coluna.
Não restavam dúvidas que tínhamos caído num campo de minas, o
mais terrível e insidioso inimigo que conhecíamos, aquele que
mais temíamos. Por todas as razões e também porque na primeira
saída da Companhia para a mata, três Alferes pagaram com o seu
sangue o tributo àquele maldito instrumento de guerra. Deus
poupou a vida a esses camaradas mas o destino foi bem cruel no
tributo cobrado àqueles três rapazinhos com pouco mais de vinte
anos vestidos de alferes! Marcou-os, no corpo e na alma, para a
vida que eles souberam, porventura cada um a seu modo,
transformar numa aula contínua de coragem e dignidade!
Ao certificar a dimensão do perigo, com o levantamento das
primeiras minas e a deteção de outras mais, pedimos a Cufar
reforços a nível de especialistas de minas e armadilhas que nos
pudessem ajudar a sair daquela situação de angústia extrema em
que se passou um fenómeno curioso. As pernas, atarraxadas ao
chão, bloqueadas pelo medo, faziam uma força titânica para
sustentar o corpo sem fazer peso sobre o capim rasteiro! Não
fosse a malvada explodir! No dia seguinte as pernas doíam como
se tivéssemos feito duas maratonas!
Depressa os reforços pedidos chegaram como sempre acontecia
quando era preciso ajudar. Um Furriel de minas e armadilhas,
equipado a rigor com pica e a faca de mato, apresentou-se ao
serviço reforçando os meios próprios do 2º Grupo e do Pelotão de
Caçadores Nativos 51 cuja acção foi notável!
Quando hoje vemos a mais que justificada panóplia de equipamento
com que trabalham os Heróis da desminagem mais cresce o respeito
pelos nossos que, para além do referido “equipamento”, só tinham
uma coragem sem limites!
Algum tempo depois estavam desarmadas 27 minas PMD-6 e alinhadas
em cima da viatura para recolher a quartéis! Era a Berliet do
Abel a quem, por ironia do destino, sempre cumpria as missões
complicadas.
Os cerca de cinquenta soldados foram cumprir a sua missão,
graças a Deus e aos nossos Camaradas das minas e respetivos
ajudantes, todos inteiros.
O “sapador” de reforço, regressou com as minas ao quartel como
se ajudar a levantar, neutralizar e transportar 27 engenhos
antipessoal numa manhã de Novembro fosse tarefa de rotina.
O nosso capitão, tão novo e tão miliciano quanto nós, informou
por mensagem o Comando Chefe e o Comando do Batalhão que “ em
duas faixas com 10 mts de largura por 50 mts de comprimento
tinham sido detectadas e levantadas já 27 minas tipo PMD-6”.
Foi prudente com o “já”. Dias depois apareceram no mesmo local
mais três PMD-6 e uma MACAR TMD (anti carro)!
Quarenta e um anos passados, no meio de tempos de crise que
também fustiga corpos e almas, ao recordar este episódio apetece
agradecer a Deus a proteção que nos deu.
Apetece agradecer ao Alferes, comandante do Pelotão de Caçadores
Nativos 51 em fim de comissão e aos Alferes dos 2º e 3º Grupos,
ambos da CCAÇ4740 em início de comissão, o exemplo de coragem e
dignidade que os acompanha na vida.
Apetece dizer aos três Furriéis da CCAÇ4740 com a especialidade
de minas e armadilhas, que bendizemos a sua coragem/loucura.
Porventura sem eles, nas faldas de Camaíupa, atarraxados ao
chão, estavam hoje 50 estátuas que ninguém sabia explicar. E em
muitos outros locais onde arriscaram a vida para proteger
camaradas de ficarem “estatificados”.
E, assim sendo, ficam as estátuas para quem as merece: os três
Alferes feridos por mina e os três Furriéis de minas e
armadilhas da CCAÇ4740!
Assim seja! Porque a pequena história da CCAÇ 4740 merece
permanecer, pelo menos enquanto existir um último suspiro, no
último soldado da Companhia!
Parede, 3 de
Novembro de 2013.
António Zêzere, Alf. 2º Grupo Combate
Início da
página
23 de Dezembro de 1972
- HÁ DATAS QUE
NUNCA SE ESQUECEM
narrativa de
António Zêzere em
22.12.2011
Faz amanhã, dia 23 de Dezembro, pelas 19H30, 39 anos que
o 2º Grupo de Combate a sair do Quartel para montar uma
emboscada sentiu cair a pouco mais de 40 metros 9
mísseis que encheram a pista de aviação de estilhaços e
nos colocou a todos muito próximo do fim.
Deus entendeu estender a sua Mão protetora sobre as
nossas cabeças e hoje, recordando essas horas de
aflição, elevamos ao Menino Jesus uma oração singela de
agradecimento.
Falei, entre hoje e ontem, com os elementos do 2º Grupo
de Combate residentes nos Açores – Rosa, Simas,
Pamplona, Linhares, Correia, Félix, Braga, Zé da Silva e
o Braga Moura.
Por entre a névoa do tempo esta memória continua viva.
Mas, sobretudo, continua viva a estima, a amizade, a
ternura e, não tenhamos medo das palavras, o Amor que
une este grupo de velhotes que já tiveram vinte anos! E
a que se juntam, sem nenhuma dúvida, os outros que os
ventos da vida espalharam pelo mundo – Aguiar, Martins,
Frias, Xavier, Moniz, Rogério, Resende, Novo, Soares,
Moreira, Raposo, Freitas, Melo, Eira , Alexandre, Costa.
E ainda aqueles que Deus já chamou para junto de si –
Borba, Cordeiro, Maurício, Maciel.
Parede,
22 de Dezembro de 2011.
António
Zêzere
Início da
página
23 de Dezembro de 1972
- CEIA DE DIGESTÃO DIFÍCIL, narrativa de
António Zêzere em
3.11.2013
Ao cair da
noite de 23 de Dezembro de 1972 o 2º Grupo de Combate,
reforçado
com
o Pelotão da Caçadores Nativos 51
comandado pelo furriel
Cunha, saiu do Quartel com a missão de ir montar uma
emboscada no Porto de Impungueda
procurando impedir a minagem do local através do qual éramos
abastecidos pela Marinha.
Seriam sete
horas da noite já cerrada quando a coluna tomou o lado
esquerdo da pista e avançou ao longo do asfalto até
encontrar um caminho que lhe permitiria atravessar uma
bolanha encurtando a distância e, sobretudo, variando
itinerários.
A ordem da
coluna era a de sempre: na frente a 1ª secção sob comando do
alferes com a bazuca 8.9 como arma colectiva; a 2ªsecção com
a metralhadora HK 21, comandada pelo furriel Alexandre; a 3ª
secção do morteiro 60 da responsabilidade do furriel Costa.
A primeira
equipa da 1ª secção era a minha terminando na “sombra
protectora”, o Freitas. Atrás dele o Pamplona com a bazuca,
à frente da segunda equipa, do cabo Linhares.
Pouco
depois do Grupo ter iniciado a marcha, já com as distâncias
entre homens definidas, a cerca de 400 metros do quartel,
ouvimos as sentinelas dispararem duas rajadas curtas e
seguidas. Soubemos logo, era aquele o sinal convencionado,
que tinham sido detectadas saídas de armas pesadas atacando
Cufar. Mas não fazíamos ideia do que aí vinha…
Não foi
preciso mandar deitar. Em segundos todo o Grupo estava
colado ao chão naquele deserto inóspito e liso que era a
borda da pista. O sulco mais fundo seria um carreiro de
formigas ou a valeta por onde tinha escorrido a água na
última chuvada há três meses atrás. Não existia um abrigo!
Ouvimos um
silvo medonho, que não conhecíamos e logo a seguir um
estrondo abalou tudo fazendo voar sobre a pista uma nuvem de
pequenos estilhaços incandescentes.
O impacto
tinha sido sobre o lado oposto da pista relativamente aquele
onde estávamos.
Com a cara
colada ao chão, a boca a saber a terra, foi possível
espreitar pelo canto do olho e ver do lado da mata da
Camaiupa um rasto de fogo no céu escuro. Depois deixou de se
ver o rasto e começou a ouvir-se o silvo cada vez mais forte
até acontecer segunda explosão tão brutal como a primeira,
quase no mesmo local e nova chuva de estilhaços a varrer a
pista.
Era o nosso
baptismo dos mísseis 122. Daí o rasto de fogo quando o
víamos a ganhar altura depois do disparo. Depois o silvo
quando o míssil escondia o rasto com a descida para os
alvos.
Foram mais
quatro, cinco, seis…sabemos lá! No dia seguinte detectamos
nove impactos no lado direito da pista. Nós estávamos no
lado esquerdo, separados pelo asfalto. Há quem diga que foi
sorte, outros Nossa Senhora.
Quando o
fogo terminou e começaram a ser sussurradas as primeiras
palavras o Freitas perguntou-me: o meu alferes tá bem? Tou ,
e você? Veja para trás que eu vejo para a frente.
Ainda não
tinha contactado o Simas, o Cordeiro ou o Aguiar quando o
Freitas gritou: Meu alferes o Pamplona está morto!
Absolutamente petrificado morri naquele instante um
bocadinho. O Pamplona morto? O Pamplona de cara redonda e
graça fácil a engrossar a voz para parecer mais velho,
morto?
Quando voei
para trás juntamo-nos em redor do Pamplona inanimado, três
ou quatro metros para a esquerda da bazuca posta no chão no
alinhamento da marcha do Grupo.
-Ele não
tem sangue meu alferes, dizia o Freitas, angustiado.
Berrei pelo
nosso enfermeiro Maurício e desferi na face esquerda do
Pamplona a mais monumental estalada que alguma vez dei. Não
vi sangue, não vi pulso, não vi respiração, não vi coisa
nenhuma! Só o grito pelo enfermeiro que deve ter sido
escutado no quartel e um chapadão com toda alma para
devolver a vida ao meu Pamplona.
O Maurício
demorou segundos e pôs o Pamplona de lado. O Pamplona gemeu,
momentos depois um Unimog chegava e o Pamplona era levado
para a enfermaria onde aportamos todos ao mesmo tempo para
que a confusão fosse completa. Tudo posto na rua e feito
silêncio foi possível o atendimento do Pamplona.
Alguns
minutos depois sai o pessoal médico, o Maurício e o Pamplona
pelo seu pé.
E veio a
explicação, afinal, simples.
O Pamplona,
como sempre no mato, levava a bazuca armada. Quando se
deitou para o chão procurou arrumar a arma não fosse
disparar-se ao ser lançada com violência. Entretanto o
primeiro míssil explodiu a cerca de 40/50 metros e o sopro
atira com o Pamplona de pantanas por quase quatro metros,
fazendo-o desmaiar.
Á frente do
Pamplona na coluna ia o Freitas, à frente do Freitas ia eu.
Oh Pamplona ainda bem que a bazuca não disparou ao cair no
chão…
Foi preciso
reorganizar a acção e avançar para Impungueda. Quase na
porta d’armas olho para trás e vejo no seu lugar o Pamplona
com a bazuca. Mandei o municiador tomar conta da arma e
mandei o Pamplona para a cama. Pela primeira vez não disse
nada, nem sequer esboçou protesto. É que elas também doem
aos valentes…
Na manhã
seguinte, bem cedo, antes de ir ver as crateras dos mísseis
fui ver o Pamplona.
- Então
como está camarada?
- Bem meu
alferes mas veja lá que tenho o lado direito do corpo como
uma nódoa negra pegada desde o pé até à cabeça. Mas o que me
dói mesmo é a cara do lado esquerdo, dizia flexionando o
maxilar, sem entender os mistérios ocultos do corpo humano.
As
testemunhas presenciais, o Maurício, o Freitas, o Aguiar, o
Simas, o Cordeiro e mais um ou outro nunca falaram ou, com
a angústia, nem viram. Naturalmente o autor não confessou.
Trinta e
quatro anos passados com o Pamplona reformado da PSP,
cuidando de galinhas na Praia da Vitória e o alferes
reformado dos Serviços Prisionais cheio de pena por não ter
galinhas é que a história foi esclarecida.
- Oh
Pamplona lembra-se da noite dos mísseis e da dor na cara no
dia seguinte? Olhe fui eu quem lhe enfiou um tabefe para
você não morrer…
- Veja lá
se quer que eu, agora, lhe agradeça ter-me salvo dum desmaio
daquela maneira bonita…
- Não
precisa de agradecer. Eu só retribui você não ter atirado a
bazuca ao chão e, provavelmente, ter-me salvo mesmo a
vida..
Esta
odisseia está descrita em
verso pelo
soldado Simas que encontrou na métrica a forma de
expressar o que sentiu e pode ser
lida no nosso sítio da internet.
Parede, Outubro de 2008.
Nota:
Para avaliar a “qualidade” da refeição refira-se que o
míssil 122
dispunha de 6.5 Kg de explosivos, produzia 15.000 estilhaços
e provocava uma zona de morte de 160 m2.
Início da
página
JANEIRO 73 -
Alferes Mil. 01876771 - Luís Fernando Mourato de Oliveira substitui
Alferes Mil. 18029168 - Mário José Correia Salsinha nomeado para as
unidades Africanas CCAC 13.
FEVEREIRO 73 -
Alferes Mil. 16951673 - António Octávio da Silva Neto substitui
Alferes Mil. 10040268 - António Adolfo Moreira da Silva Zêzere
colocado no CCFAG/QG/ACAP.
JUNHO 73
- Soldado 13354172 - David Correia de Abreu substitui
soldado 18882170 - Norberto Rodrigues Pinto Varandas que terminou a
sua comissão de serviço.
11 de
Julho de 1973 - HISTÓRIAS MAL CONTADAS QUE FAZEM HISTÓRIA, narrativa de
Luiz Mourato de Oliveira em
24.10.2016
Na passada semana tive a surpresa do
camarada “Cufariano” da CCAÇ4740,
Mário Oliveira ex-furriel MEC.AUTO
daquela companhia e um dos
administradores do site daquela
unidade que ele próprio criou
conjuntamente com o ex-alferes
Zêzere e com o ex-furriel Faria, me
contactar através do Facebook.
Dizia-me ele que semanalmente e com
rigor, todos os sábados se desloca à
Ameixoeira, onde actualmente resido,
para visitar a sogra e almoçarem em
convívio familiar com esta bem como
com os seus cunhados e que seria
agradável encontrarmo-nos para um
café e uma boa cavaqueira. Respondi
imediatamente que teria todo o gosto
neste encontro após quarenta e três
anos em que apenas tivemos
oportunidade de trocar recordações e
notícias através do site por ele
criado. Combinámos o encontro e à
hora combinada lá estávamos nós
sentados no café do Sr. Manuel nas
galerias de Santa Clara. Para minha
surpresa reconhecemo-nos
imediatamente não graças à boa
memória dos nossos rostos dos vinte
anos nem porque não mudámos nada
desde essa data, mas sim pelas
fotografias e postes que vamos
trocando no Facebook. As tecnologias
têm algumas vantagens!
Foi uma manhã de convívio muito
agradável, sobretudo porque
rebuscámos as boas lembranças
daquele tempo. Celebrámos o facto de
termos tido uma vida sã e com
alegrias durante a nossa vida na
tropa bem como no tempo que se
seguiu e não abordámos nem agruras
nem tragédias antigas para que o
encontro celebrasse apenas as coisas
boas da vida.
Uma das boas lembranças que trocámos
foi um dos milagres de Cufar, de
certeza que aconteceram muitos mais,
que ocorreu em Julho de 1973 e que é
relatado no livro “Diário da Guiné“
da autoria do nosso camarada António
Graça Abreu que connosco conviveu
esse período que a todos marcou e de
quem tenho estima e consideração
apesar de aqui vir corrigir a
estória que segundo ele ocorreu no
dia 11 daquele mês. Estou certo de
que o que Graça Abreu escreveu e a
que só não correspondem os actores
do acontecido naquele dia, não se
deve a uma voluntária alteração dos
factos, mas sim à narrativa que lhe
foi dada dos acontecimentos e que
aceitou como boa e posteriormente a
transcreveu ficando assim para a
construção da História.
Nesse dia um popular de Matofarroba
dirigiu-se ao aquartelamento e
denunciou que uma mina anticarro
(imagem 1)
tinha sido colocada à entrada do
aldeamento, na altura uma aldeia
restrutura-da através da acção de
reordenamentos lavada a cabo na
Guiné.
Um grupo dirigiu-se ao local,
localizou e levantou a mina.
Tratava-se de uma mina anticarro
russa, uma arma de uma simplicidade
letal que se resumia a um caixote de
madeira com cerca de sete quilos de
trotil e uma espoleta que cedia com
a pressão da uma viatura provocando
assim os estragos que todos nós
conhecemos. O caixote foi assim
simplesmente levantado, transportado
para a unidade e “arrumado” na
secretaria da companhia sobre a
secretária do já falecido
Primeiro-sargento Xavier…e lá ficou.
Alferes do terceiro pelotão, Luis
Oliveira (eu próprio) entrou por
acaso na secretaria, talvez para ver
a mina “apreendida” porque não era
local que frequentasse com
regularidade, e movido por uma
curiosidade perigosa sobre a arma do
inimigo e para verificar se esta
tinha sido desarmada antes de estar
assim exposta, rodou a tampa de
baquelite que ocultava e dava acesso
à espoleta MUV que deveria fazer a
mina explodir.
Para grande surpresa minha e ainda
maior susto, verifiquei que após a
tampa de baquelite estar
completamente desenroscada, alguma
coisa a prendia e a impedia de se
soltar do caixote mortal. Com o
máximo cuidado detectei que a na
base da rosca da tampa tinha sido
feito um pequeno orifício e que
neste este preso um cordel que
impedia a tampa de se soltar. Também
rapidamente concluí que o mesmo
cordel estava lasso e que o se havia
perigo, o pior já tinha passado.
Informei imediatamente os presentes
na secretaria para que saíssem
porque a mina estava armadilhada,
cortei o cordel que accionava a
armadilha, retirei a espoleta MUV
que armava originalmente o engenho e
com ajuda de alguém foi retirada a
tampa de madeira do “caixote” ainda
mina.
Havia uma segunda espoleta MUV
(imagem 2) soldada
no trotil e armada no dispositivo de
tracção onde estava atada a outra
ponta do cordel. Na tampa da mina
estavam pregados grosseiramente
alguns pregos que deveriam servir de
guia ao cordel para que ao
desenroscar a tampa de baquelite, a
tração do mesmo fosse orientada para
que a espoleta fosse accionada e o
engenho explodisse. Felizmente isso
não aconteceu e se assim fosse, como
calculam, não poderia hoje estar a
contar esta estória.
Posto isto, e para que as estórias
contribuam para a História com o
máximo de rigor, mais que a corrigir
a narrativa do Graça Abreu em que só
os autores não correspondem aos
acontecimentos ocorridos, ficam-me
na memória a série de condutas
incorrectas na acção de levantamento
da mina que são reveladores da
impreparação dos nossos militares e
da falta de liderança para algumas
acções que pela sua delicadeza e
perigosidade exigiam
profissionalismo e regras de
procedimento rigorosas e aplicadas
exclusivamente por especialistas.
Concluindo, após de identificada
localização da uma mina esta deveria
ter sido detonada no local por
especialista de minas e armadilhas
evitando assim o risco desta estar
armadilhada e infringir baixas
desnecessárias quer às NT’s quer à
população civil e evitaria também os
erros subsequentes que se sucederam.
A mina deveria ter sido desarmada
por um especialista que melhor do
que eu teria gerido o desarme da
armadilha lá colocada.
O mais caricato desta estória foi a
mina ter sido depositada na
secretaria sobre a secretária do
primeiro Xavier que certamente não
carecia daquele equipamento para as
suas tarefas administrativas.
Por último, o meu próprio erro de
manusear uma arma que não me dizia
respeito, visto ser atirador de
infantaria e não especialista de
minas e armadilhas e ainda ter
ignorado negligentemente que o
desarme de uma mina não deveria ser
efectuado numa secretaria e onde
estavam mais militares que seriam
vitimas da minha incúria caso a
armadilha tivesse funcionado.
Por último as informações militares
deveriam ter aprisionado,
interrogado e posteriormente
controlado quem prestou a informação
sobre a localização da mina dado o
objectivo primeiro da denúncia era
para que a mina fosse accionada
através da armadilha pois o efeito
psicológico dessa acção teria muito
maior impacto devido não ser usual
pelo IN.
Felizmente estão cá todos para
contar e constatar que às vezes é
possível aprender com o erro,
noutras nem por isso!
Lisboa, 2016.10.24
Luís Mourato de Oliveira
Início da
página
AGOSTO 73 -
Furriel Mil. 01675072 - António José Nunes Farinha substitui
Furriel Mil. 15894671 - José Alberto Ribeiro colocado na CCAC 13.
OUTUBRO 73 -
Alferes Mil. 10099972 - Alberto Matos Silva substitui Alferes Mil.
06350465 - João Eduardo Alemão Mafra transferido para o QG/CCFAG.
NOVEMBRO 73
-
Soldado 05403173 - Arlindo M. Garrido substitui
soldado 01115072 - José de Melo André
evacuado por doença para o HMP.
DEZEMBRO 73 -
Soldado 07397172 - Porfírio da Graça Lourenço Marques substitui o
Soldado 06578672 - Agostinho dos Reis Resende transferido para a 3ª
CART/BARTª 6521.
1 de Janeiro de 1974 - MEMÓRIAS
DO DIA 1 DE JANEIRO DE 1974, narrativa de
António da Graça Abreu em
Cufar, 1 de Janeiro de
1974, Chegou o ano da “peluda”!
Entrei pelo réveillon dentro ao som de milhares de tiros
e rajadas de G 3.
O meu coronel ( o paraquedista João José Curado Leitão,
do CAOP 1) havia dado ordens ao capitão da companhia
(C. Caç. 4740) dos açorianos e a toda a tropa de Cufar
para que, ao chegar da meia-noite, ninguém disparasse um
único tiro. Falou em dez dias de prisão para o
energúmeno que tivesse a ousadia de pegar na espingarda
e fizesse fogo.
À meia-noite menos dez começou o fogachal. Os açorianos
saíram das suas tabancas às dezenas, armados, com as G 3
apontadas para o céu e vá de despejar carregadores após
carregadores. Ao soar das doze badaladas – que ninguém
ouviu até porque não soaram badaladas nenhumas, tínhamos
apenas o matraquear constante das armas ligeiras que
quase levantavam Cufar do chão. Uma festa! Por todo o
lado, havia tiros à solta. Os rapazes, bêbados, tontos
de desvairo, não disparavam apenas para o ar. 1974
também é para eles o ano da “peluda” e quase se podiam
ver balas cruzadas a rasar as nossas cabeças. Felizmente
ninguém foi atingido. O meu coronel manteve-se quietinho
no seu quarto, ninguém deu por ele.
Se as bebedeiras são o pão nosso de cada dia, neste fim
do ano foi demais. Eu também ando a beber mais do que
devo, é fácil uma pessoa enfrascar-se e vou explicar
como é, basta contabilizar a rotina do dia. Ao almoço,
ao meio-dia, o pobre repasto é acompanhado com vinho, às
quatro da tarde, por causa do calor, bebe-se uma
cerveja, às sete, ao jantar, marcha mais meio litro de
vinho, depois enfia-se um café e uma aguardente, às nove
ou dez, há petisco, por exemplo umas chouriças assadas,
bebem-se mais umas cervejas e no fim, para atestar,
sorvem-se lentamente uns copos de whisky.
Chegou 1974. É a sequência irreversível dos dias. Em
breve partirei, estes açorianos regressarão igualmente a
casa, outros rapazes oriundos dos quatro cantos de
Portugal virão para a Guiné. Até quando?
António Graça de Abreu
alf. mil CAOP 1
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6 de Janeiro de 1974 -
MEMÓRIAS DE UM TEMPO QUE TEIMA EM NÃO ME ABANDONAR, narrativa de
Armando Faria em
5.8.2010
Hoje, 05 Agosto 2010, ao
ler um artigo publicado no JN (Jornal de Noticias) sobre
a questão da qualidade da água na Guiné que começa
assim: “A Guiné-Bissau morre pela boca”, veio-me à
memória o dia 06 de Janeiro de 1974 quando ao atravessar
a mata do Cantanhes, algures entre Cadique e Jemberem,
já depois de uma longa caminhada atravessando bolanhas
que começou com o nascer do dia, íamos nós, digo nós
pois tratava-se daquela operação a que fomos chamados e
onde viemos a sofrer uma emboscada no dia 07 Janeiro
junto ao pontão da estrada Cadique Jemberem.
Mas, como ia dizendo, veio-me à memoria a tarde daquele
dia em que sequiosos e já de cantis vazios num quase
torpor pela fadiga e a sede, no meio do nada em lugar
que não sei identificar (hoje visto do Satélite
parece-me ser na zona de Cadique Nalu) eis que surge o
rosto de uma mulher segurando nas mãos uma cabaça cheia
de água fresca que havia recolhido e nos era oferecida.
Abençoada seja, dei graças a Deus pela gentil oferta
vinda de alguém que se encontrava a viver numa zona IN,
que seria de toda a segurança que tivéssemos recusado,
mas a nossa sede já não nos permitia qualquer acto de
sensatez e depois os olhos daquela mulher não nos
ofereciam razão para temer.
Muitas vezes tenho falado deste encontro com a sede e da
forma como a mesma foi ultrapassada e quem me tem ouvido
sabe como é meu costume descrever, não foi em vão que
tudo passou nem é o acaso que dele me faz falar.
Digo como sempre, nunca bebi água melhor e mais fresca
do que aquela que ali nos foi oferecida naquele meio do
nada onde hoje gostaria de poder voltar para apreciar a
beleza das suas matas e a imensidão das suas bolanhas de
arroz onde os pássaros esvoaçam aos milhares, nem o
cheiro que da vasilha emanava me abandona a memória,
havia aquele cheiro forte que nos indicava o uso do
vasilhame, mas a sede, essa coisa que faz perder o Norte
e abandonar a alma ao Criador não nos permitia outros
luxos, a escolha estava ali traçada, aqueles que nos
haviam mandado para lugares tão inóspitos e perigos à
espreita, esses estavam algures em salas onde o ar
condicionado não parava e onde a água era, ou a tónica
com gin, ou a loura e fresca algures da fonte de Leça do
Balio ou outra do género.
E hoje, para mal dos meus muitos pecados, recordo esse
dia e mais uma vez peço ao Criador a Bênção para essa
mulher que correndo os riscos de vir a ser castigada,
não esqueçamos que estávamos em zona IN, não olhou ao
risco e ofereceu o que melhor alguém pode dar, a vida,
pois que é a água senão a fonte da vida?
Obrigado “mulher” que não sabendo o teu nome permitiste
que hoje te pudesse recordar e por ti fazer uma Oração
ao meu Deus por tão nobre gesto.
Como seria bem melhor o Mundo se todos fossemos como tu
generosa e gentil mulher, não sabes nem podias imaginar
que com o teu gesto salvaste do suplício da sede mais de
uma centena de homens que puderam por isso voltar ao
“seu” Mundo.
Pedroso, Agosto de 2010
Armando Faria, Ex. Fur.
Mil. CCAÇ4740
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FEVEREIRO 74 -
Soldado 09759092 - Vicente Maria Pereira Pacheco transferido do 3º
BCAÇ 4610 em substituição do Soldado 19020772 - José Luís Carreira
Teófilo.
11 de Julho de 1974 é o ultimo
dia dos 690 passados, está prestes a chegar ao fim esta impo-missão
(missão imposta). Voltamos a ter os níveis de adrenalina em cima,
mas agora por uma boa razão, o início da modança da história.
12 de Julho 1974 -
A CCAÇ 4152 transportada em LDM arribou ao porto de Impundega para substituir a CCAÇ 4740.
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12 de Julho 1974 -
Após a chegada da companhia substituta, e porque a rendição se iria
desenrolar sem sobreposição, a espera foi muita e dolorosa, mas a
ordem de partida lá chegou e a companhia deu início ao seu
regresso com uma primeira paragem no Cumeré.
3 de Agosto de 1974 - A CCAÇ 4740
rumou a caminho do aeroporto de Bissalanca, era chegada a hora da
formatura para o desfile da despedida, foi o ultimo ato
coletivo desta companhia, para os 36 anos que se iriam seguir.
Após alguma espera mais, a derradeira
viagem do regressou da sua comissão de serviço,
fez-se a bordo de um avião
Boing dos Transportes Aérios Militares com escala no aeroporto das Lajes em Angra do Heroísmo, aqui, desembarcaram os militares pertencentes às ilhas dos Açores.
O voo
teve continuação com destino a Lisboa ao aeroporto de Figo Maduro.
Após as formalidades militares para o desembasrque, as tropas foram
transportadas para o RALIZ onde foram desmobilizadas para de seguida
realizarem o regresso a casa.
Aqui terminam 874 dias de vida
militar, os melhores dias que um homem tem, de pujança jovem,
ficaram em terras que não nais veremos, mas nunca esqueceremos.
Outubro de 2007 - 36 anos
depois, com a dedicação inicial do Armando Faria ex Furriel
Miliciano, António
Zêzere ex Alferes Miliciano e posteriormente do Mário Oliveira ex Furriel
Miliciano,
procede-se ao levantamento das localizações e contactos de todos os
elementos da CCAÇ4740 para novas
formaturas.
1 de Dezembro de 2007 - Fátima,
local de peregrinação em fé e de preces para que a comissão de
serviço na Guiné, decorre-se com uma proteção especial pela Senhora,
cuja imagem nos acompanhou e certamente nos protege-o. Por isto tudo
e por ser central, relativamente ao território continental, Fátima
foi o local eleito para os nossos encontros, assim, os atos
coletivos que se seguiram 36 anos após o regresso foram os seguintes:
1 de Dezembro de 2007 -1º Encontro
Continental
21 de Junho de 2008 - 2º Encontro
Continental,
10
a 14 de Junho de 2009 - 1º Encontro Açoriano, nas Ilhas Faial,
Pico, Angra do Heroísmo e S. Miguel.
19 de Junho de 2010 - 3º Encontro
Continental,
3 a 9 de Julho de 2010 - 2º
Encontro Açoriano, nas Ilhas Faial, Pico, Angra do Heroísmo e
S. Miguel.
18
de Junho de 2011 - 4º Encontro Continental,
16 de Junho de 2012 - 5º Encontro
Continental,
15
de Junho de 2013 - 6º Encontro
Continental,
21 de Junho de 2014 - 7º Encontro
Continental,
20
de Junho de 2015 - 9º Encontro
Continental,
18
de Junho de 2016 - 10º Encontro
Continental,
17
de Junho de 2016 - 11º Encontro
Continental,
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